
O que me choca nessa história é perceber como estamos sujeitos a situações desse tipo e não percebemos até o pior acontecer. Vivemos sempre no limite: no limite do cansaço, no limite da tolerância, no limite da convivência. Ao retomar algumas lembranças, Jean-Do nota que em sua vida de sucesso profissional os filhos foram deixados para segundo plano e eles não aproveitaram tantos momentos juntos quanto ele desejava. Perceber isso preso a uma cadeira de rodas foi devastador para Jean-Do que apenas podia observar de longe os filhos brincando sem ao menos poder abraçá-los. Não me surpreenderia com o número de pais que passariam pelo mesmo desespero do personagem por nem sempre terem tempo suficiente para compartilhar com as crianças e quando se derem conta disso, o momento de aproveitar já terá passado.
Outro ponto que me chama a atenção no filme é que para que Jean-Do se comunique com outras pessoas – já que ele perdeu os movimentos da boca – sua fonoaudióloga empenha-se em um sistema de recitar todas as letras do alfabeto e ele retribuir com uma piscadinha para a letra selecionada. Desse modo formaram palavras e frases completas até que essa dupla conseguiu atingir o que jamais esperariam deles: escreveram um livro com todas as palavras selecionadas por Jean-Do.
Esse fato me surpreendeu e fez com que eu sentisse nada menos que desprezo pelas pessoas que são dominadas pela preguiça e má vontade para realizar tarefas das quais são perfeitamente capazes por serem saudáveis e sãs. E um homem com apenas o movimento de um olho foi capaz de escrever um livro... Se isso não for passível de choque, mostrem-me o que é.
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