Parte 1 - O Adeus
“Já estou mais do que cansada disso tudo” – foram as últimas palavras que saíram da minha boca antes de deixar aquele apartamento. Peguei minha bolsa de qualquer jeito e bati a velha porta envernizada do apartamento dele. Dei uma última olhada no corredor, na iluminação fraca e amarelada que ali existia, no piso de carpete gasto, nos quadrinhos de animais fixados à parede branca e suja, e, enfim, encarei a porta do elevador. Respirei fundo, tentando me livrar das inúmeras gotinhas salgadas que transbordavam dos meus olhos e queimavam meu rosto até chegar ao queixo. Respirei fundo mais uma vez e fiz o maior esforço possível para esticar meus dedos até o botão do elevador, como se houvesse uma corrente me segurando e me impedindo de executar tal ação. Mas eu estava determinada a ir embora daquele lugar o mais rápido possível, então, assim que reuni todas as minhas forças, chamei o elevador e desci por ele em um instante.
Ao chegar à recepção do prédio, fiz a mesma coisa que havia feito no corredor: dei uma última olhada geral em tudo, quem sabe quando eu voltaria a ver aquele lugar de novo? Muito provavelmente, nunca. A não ser que o destino fosse óbvio demais e me fizesse ter uma amiga que resida ali, ou quem sabe meu apartamento pudesse ser inundado e eu tivesse que comprar outro naquele prédio, mas, teorias babacas sobre o destino à parte, eu reavaliei tudo. Olhei pro lustre pendurado no hall, nos sofazinhos pretos de couro onde tantas vezes nós nos sentamos juntos. Olhei pra mesinha de centro mogno que tinha vários vasinhos de flores artificiais coloridas, e então, quando olhei pra parede oposta, levei um susto. Eu estava encarando a mim mesma, na verdade, eu encarava meu reflexo no espelho arredondado com uma expressão ao mesmo tempo confusa e divertida. Percebi que meus olhos estavam inchados, assim como minhas bochechas e meus lábios, que agora se encontravam avermelhados. Eu nunca tinha me visto dessa forma, e mesmo sentindo a dor esmagadora do que acabara de acontecer, eu consegui sorrir. Sorri pra mim mesma e foi naquele momento que eu percebi que eu deveria me amar acima de qualquer outra coisa. Deixei meu reflexo de lado e fui caminhando para fora do prédio. Me sentindo um pouco mais aliviada.
Dei um último “tchau” ao porteiro, o que na verdade seria um adeus, e quando olhei pro céu me dei conta de que o tempo estava totalmente fechado, escuro e nebuloso. “Pronto, era só o que me faltava”, pensei. Eu, ali, que tinha acabado de destruir uma parte de mim, estava me sentindo agora uma criança recém nascida e desprotegida, precisando de braços protetores para me acolher. Mas eu não tinha saída, eu deveria começar a correr pra casa antes que a chuva me pegasse e eu tivesse que me preocupar com uma gripe. Respirei fundo, contei até três e saí correndo pelas calçadas, me sentindo a maior maratonista que o mundo já viu. Está bem, sem piadas. Correr não adiantou nada mesmo, só me deixou ainda mais cansada.